Vou lamber todo o teu corpo
enquanto acordado ele estiver por mim,
enquanto não perder a cor
que se mistura a de minha sombra
com tamanha benevolência e carinho,
que até o mais imponente pássaro sabe
que não haveria como cantar ao teu adeus
para abrandar a alma
que por ti espia e vigia insone
em meio a um turbilhão de desejos,
sonhos e cuidado.
Quero espalmar tua carne,
enquanto meus seios tocarem teus dedos
ou teus lábios.
Quero caminhar por trigais,
enquanto o vento assoviar forte,
para ter a certeza de que a vida não parou ali,
debaixo do Sol.
Para ouvir tua voz murmurando
em ondas que vêm e vão,
que um dia me amou mais ou menos,
dependendo do teu livre arbítrio,
dos humores,
ou da abundância das águas de verão.
Quero lamber todo o teu corpo,
sentir o gosto do sal em teus mares
e o gosto amargo das tuas marés altas e baixas.
Às 23 horas, todos os dias,
quero dormir para sempre,
até amanhã
ou qualquer outro dia.