Quero sair daqui,
quero viver outra vida
ou, quem sabe,
mais de uma vida,
duas ao mesmo tempo.
Erro em uma
pra acertar em outra.
Quero dar a volta
ao mundo que me cria um dia,
enquanto não me creio.
Giro o compasso,
único mundo que,
volta e meia,
traço.
Quero crer nunca mais
ter que esperar com bagagem de mão.
Quero apontar espadas pra lua,
rasgar sua face nua
e dela extrair rosas brancas,
cheiro de rosas vermelhas,
leite de cabra,
couro de cobra,
diamantes e esmeraldas,
raios ultravioleta.
Quero furtar a luz que ilumina as ruas
e colher toda a poesia
que brota das valas,
dos bueiros,
casebres,
muros e canteiros.
Quero despir-me da casca,
trocar de pele,
emancipar-me.
Quero tudo,
quero nada.
Estou com muita preguiça de te beijar.
Quero ser beijada,
tocada,
inserida,
perpetuada em tua carne,
enxertada em teu pé de apoio.
Só não quero que me engulas
pra eu não saber quando olhas pra outra,
pra não senti-lo na carne de outra.