Escrevo melhor quando vem o medo do óbvio: o medo de sentir medo.
Sou uma farsa de força.
Sou fraca, sou nada.
Sou forca.
Noite após noite as entrelinhas das minhas confissões dizem o que a minha cama sabe, os meus travesseiros, cobertas, pijamas e cremes noturnos também.
Preciso sempre de um livro à mão, do abajur à minha direita aceso, de meio Olcadil e meio copo d’água sobre o meu criado, fiel confidente, sempre mudo.
Na sua falta, preciso de alguma luz. Tenho medo de que, com a noite, a sua lembrança se esgote, de que eu não o encontre mais nem em meus sonhos, de que a luz se vá e me apague.
Tenho horror à idéia de acordar e não me encontrar entre os meus lençóis.
Suores noturnos são o perfume que concedo à noite após a pele, após o pêlo, após o sonho ou o pesadelo. Quero apenas tê-lo, e você sabe disso.
Escrevo melhor por saudade, tanta saudade... Rastro que me delata por onde passo.
E é tudo tão evidente!