A chuva fala
que devo dela me banhar
expor meus seios intumescidos
ao salgado humor do mar.
Oferecer minha cintura
às suas mãos espalmadas,
roçar o meu corpo às ervas do seu,
servir meus olhos de riso e cor
e, enfim, agradecer o encontro.
Pálido junho
insolente a se aproximar,
como se não bastasse
caso pálido não fora nesse instante,
o registro do meu olhar.
Tão perto,
tão distante.
Ondas de frio
esfarpam minha pele.
Meus pés nus
sobre a areia branca
perdem forma e cor
por entre Ponta das Canas,
madrepérolas furta cor
e canaviais de saudade.
Enfim, turquesa enfim.
Fios de luz
iluminam meus pêlos tão negros
por todas as bordas semeados
anunciando consciência e retorno.
Livre estaria agora
a caminho da Cordilheira
caso tempo não houvera,
caso eu pudesse eterna
antes da próxima primavera.
Ondas vêm, ondas vão
e o mar se confunde em minha memória
com o verde daquele olhar
sem o qual, decididamente,
não valeria a pena a visita.
Quisera perpétua poder
despertar o seu tormento
e navegar velas brancas ao vento
pelos mares da Grécia,
pelas cores da Grécia,
pelos céus da Grécia.
Que boca linda aquela,
que cheiro de riso farto,
de alegria quase infantil
e fome insaciável!
Que lembrança bem vinda,
sempre!
A chuva fala
que devo dela me banhar
e ela tem razão.