LXII

Obcecada consciência
a pernoitar no silêncio da minha alma,
banha meu corpo em leite,
lava meus cabelos com tuas mãos tão brancas,
enfaixa minha carne em toalha de algodão,
toca minhas costas com tuas mãos tão quentes,
segura entre elas meu rosto cansado,
aproveita meus olhos fechados,
a minha boca entreaberta
e beija,
só dessa vez,
a minha testa molhada.
Alivia minha dor com tua saliva,
batiza meu corpo em água benta
antes do fim dos meus dias,
antes da última raiada,
enquanto a noite desperta,
antes que caia orvalho,
antes que asas me levem daqui,
às dezoito horas,
ao som da Ave Maria.