XX

Não raro vagueia o teu olhar entre liberdade e condição.
Aos teus calvários sabiamente reservas um ofuscante verniz cor pele, um calculado sorriso devastador, um gesticular cauteloso e uma ofegante atenção a revelar-me distância.
Que mundo é esse para o qual te transportas e que somente eu percebo em teu olhar?
Que catástrofes ocorrem para que te refugies lá?
Vagueio então!
Pelas janelas que, vez por outra abres às minhas sempre escancaradas para ti, passam brisa do mar, vento e os teus tormentos.
Eu de cá me descabelo, respiro fundo, abro os braços e aproveito a paisagem. Incurso-me a desvendar. Fazer o quê? Ou, eu de cá faço unhas e cabelo, suspiro fundo, abro os braços e me aproveito de ti em meu colo, meus seios, meu pescoço e desejos. Nunca sem antes perfumar-me.
Concedo a mim ver em ti mais do que me é dado ver e, inevitavelmente, penetro em teu calabouço na intenção de resgatá-lo à liberdade, sempre.
Procuro por respostas claras, momentaneamente definitivas. Respostas do teu corpo ao meu, da tua mente à minha quando, então, concedes a mim ver através dos teus véus, ler os cantos da tua boca, nas tuas entrelinhas ou o que rabiscas distraidamente.
É quando compartilhas comigo o pulsar do teu coração e rascunhos de vida. E, a cada rascunho, um tímido olhar aguarda pelo meu de admiração e orgulho. E, a cada rascunho, o verbo, a correção, a ação, a mesa posta para o jantar, a cama feita para mais um sonho de um novo despertar: seqüência de atos de um grande homem, um lutador obstinado. Obrigada por confiar!
À noite recolho pontos de luz para iluminar o teu dia caso falhe o sol, caso sombras recaiam sobre ti. É inevitável apoiar, cuidar. É imperativo acolhê-lo, absorver todo o mal em ti, pois em mim, tudo se dissolve e se converte em bem.